Cuidados com o fornecimento de colostro
O seu fornecimento para bezerras é fundamental, entenda o motivo.
Que o colostro é importante para as bezerras, nossos produtores de leite já sabem, mas vamos conhecer mais algumas características e se aprofundar no assunto. O colostro começa a ser produzido por volta de 21 dias antes do parto, e se caracteriza pelo primeiro leite secretado pela vaca após o parto e é produzido por três dias consecutivos. O seu fornecimento para bezerras é fundamental, pois diferente de outros mamíferos os bovinos não transferem anticorpos pela placenta. Portanto o colostro tem a função de transmitir imunidade as recém-nascidas. O colostro é composto de imunoglobulinas, as quais são responsáveis por transmitir imunidade passiva, até que seu corpo passe a produzir anticorpos. Os anticorpos começam a ser produzidos por volta da terceira semana de vida das bezerras, mas até esse momento precisam receber imunidade do colostro para que possam sobreviver saudáveis. O colostro fornece três importantes imunoglobulinas, IgG, IgA e IgM. A imunoglobulina IgG é encontrada em maior quantidade e é responsável pela imunidade sistêmica do organismo, conferindo imunidade a microrganismos. IgA e IgM são responsáveis pela imunidade local do intestino. O colostro deve ser fornecido mais breve possível, como as imunoglobulinas apresentam um tamanho maior do que os demais nutrientes, os bezerros nascem adaptados a absorverem as imunoglobulinas. A absorção é reduzida conforme ocorre a renovação das células do intestino, estas são renovadas entre 36 a 48 horas após o nascimento. A concentração das imunoglobulinas do colostro diminui com o tempo decorrido desde o parto, e a absorção intestinal também diminui rapidamente nas horas que seguem o nascimento. A absorção é 100% a 0 h, em média 50% 13 h após o nascimento e praticamente nula em torno de 24h após o nascimento, portanto o fornecimento do colostro deve ocorrer o mais breve possível (Figura 1).
*Figura 1. Gráfico absorção de colostro de acordo com horas decorridas do nascimento, adaptado de Rebelato, M.C. & Weiblen, R., 1992.
O ideal seria que a bezerra mamasse o colostro da glândula mamária da sua mãe, mas nem sempre é possível que isso ocorra, vai depender das condições da bezerra e do úbere da vaca, caso esteja com edema vai dificultar. Portanto é melhor garantir a imunidade da bezerra e fornecer na mamadeira, na quantidade de colostro de 10% do peso vivo da bezerra. A qualidade do colostro é extremamente importante, aliás nem todas as vacas produzem com a mesma qualidade, podendo ser medida na própria fazenda com o auxílio de um colostrômetro (Figura 2). Sabe-se que existe uma forte correlação entre a densidade específica do colostro e a concentração de imunoglobulinas (Ig). Essa avaliação deve ser feita na faixa de temperatura entre 20 a 25ºC. A classificação do colostro de acordo com o colostrômetro é: de baixa qualidade (vermelho) quando Ig < 20 mg/mL; moderado (amarelo) para o intervalo de 20 – 50 mg/ mL; e excelente (verde) para valores de Ig maiores que 50 mg/mL.
*Figura 2. Imagem ilustrativa do colostrômetro.
Um estudo realizado por Gomes et. Al no mostrou que vacas com terceiro e quarto parto apresentam qualidade de colostro melhor, ou seja, apresentam terrores de Ig maiores quando comparados as vacas de 1ª e 2ª lactação. Uma ótima dica é manter um banco de colostro na propriedade, guardando uma ou duas garrafas descartáveis no congelador, das vacas que apresentarem colostro de melhor qualidade, podendo manter por até seis meses no congelador. Isso permite que você sempre tenha colostro de boa qualidade. E no momento que nascer uma bezerra é só descongelar em banho maria e fornecer a elas. Isso irá garantir qualidade e saúde das bezerras, afinal a ingestão do colostro é fundamental para a sobrevivência.
Referência:
Gomes, V. et al. INFLUÊNCIA DO NÚMERO DE PARTOS NA QUALIDADE IMUNOLÓGICA DO COLOSTRO BOVINO ;
Santos, Geraldo Tadeu dos, IMUNIDADE PASSIVA COLOSTRAL EM BOVINOS UEM.
Gomes, V. et al. Colostro bovino: muito além da imunoglobulinas Rev. Acad. Ciênc. Anim. 2017;15(Supl.2 :S99-108;
Salles, M. S. V. A IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO NA CRIAÇÃO DE BEZERRAS LEITEIRAS Pesquisa & Tecnologia, vol. 8, n. 2, Jul-Dez 2011;
Rebelato, M.C. & Weiblen, R.- A IMPORTÂNCIA DA IMUNIDADE PASSIVA PARA O TERNEIRO, Cienc. Rural vol.22 no.1 Santa Maria Jan./Apr. 1992.